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Antiquária sua

By 11:03 ,



Leia ouvindo Boat Song - WoodKid

Às vezes me pego colecionando cada palavra sua, cada gesto doce, cada olhar sincero.
Às vezes eu sei que falo "às vezes" demais, mas é porque o fato não ocorre sempre, só de vez em quando, pra não virar obsessão.
Eu sei também que às vezes falo que sei demais, quando não sei de nada. Que escrevo "demais" toda hora porque não há outro advérbio de intensidade que exprima o que eu tô sentindo.
Olha, sem você saber tô aqui colecionando suas fotografias, suas músicas favoritas, o perfume que você espalha sem dó, seus cardápios prediletos, seus filmes preferidos e todo um 'aparato documental' que ninguém leva a sério. Mas pra mim é seríssimo!
Eu perco horas viajando ao amanhecer o dia. Coloco meus pés sob o recamier do quarto, numa segunda chuvosa e me perco em meus pensamentos quando eu deveria estar lendo um livro do cursinho. Quase deixo o livro de lado pra buscar um diário seu. Se você tivesse. Qualquer vestígio ultimamente tem me sido satisfatório, mas não o suficiente. Eu desejo descobrir os mistérios que existem por trás de tudo isso que parece irreal.
Não, eu não sou uma detetive. Mas quando quero saber de uma coisa, descubro mil. Observo as peças fragmentadas, as reúno e as encho de sentido.
Não quero ser apenas uma antiquária sua, que guarda objetos em vão, só de enfeite. Assim seria inútil a mim! "Ah coitada, tão obcecada..." qualquer um diria. Para uma pessoa tão culta é preciso ver o que tem por detrás de seus óculos, de seus olhos, a alma.
Só pra você saber, o personagem da minha história é você. E mesmo que não seja tão simples desvendar seus fatos [da história], ela vai ser imaginada, escrita e reescrita quantas vezes for possível, até você perceber que não fui apenas antiquária sua, mas te fiz de personagem principal.

Crônica, por Joyce Costa

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